domingo, 20 de setembro de 2009

Por que o Burro Benjamin?

Todos os dias recebo um sem número de emails dos meus leitores perguntando sobre o porquê de adotar o pseudônimo - sonoramente feio e, na verdade, pouco criativo - de Burro Benjamin.

Bem, acredito que eu tenho o dever moral de esclarecer essa dúvida que suscita várias coçadas na cabeça dos queridos que religiosamente lêem meus textos.

Então lá vai uma explicaçãozinha:

O Burro Benjamin, pra quem não sabe, é um personagem de A Revolução dos Bichos (Animal Farm), fábula criada pelo escritor inglês George Orwell.

Uma das melhores coisas que eu já li; uma obra-prima.

A trama desse livrinho desenrola-se numa pequena fazenda da Inglaterra, na qual os bichos, cansados de serem explorados pelos humanos, se insurgem contra os mesmos, derrotando-os e expulsando-os, assumindo, assim, o poder da Granja do Solar. Orwell conta pormenorizadamente a história dessa fantasiosa revolução dos bichos: desde as conspirações no paiol até a eclosão da rebelião, passando pelo modo como o novo governo da fazenda se consolida.

Óbvio que Orwell, genial que foi, quis ir muito além de uma mera fábula. Trata-se, na verdade, de uma paródia da Revolução Russa de 1917, através da qual os comunistas, liderados por Vladimir Lênin, ascenderam ao poder. Socialista desliludido, George Orwell foi, como inequivocamente propõe Olavo de Carvalho, "um dos grandes criadores da linguagem anticomunista, calculada para parodiar e implodir o jargão comunista".

Em A Revolução dos Bichos, cada personagem representa algo ou alguém em analogia com a realidade dos fatos.

O Sr. Jones, dono da fazenda e explorador cruel, representa o czar Nicolau II. Os porcos - que outro animal poderia ser? - representam os líderes revolucionários: Major, o idealizador da rebelião, é Lênin; Bola-de-Neve, o radical expansionista, é León Trótski; e Napoleão, o severo ditador, é Josef Stálin. Esses ilustres suínos utilizam as mesmas pérfidas estratégias das quais os revolucionários da Rússia - mas não só da Rússia, se ampliarmos o escopo da analogia proposta por Orwell - fizeram uso para alcançar seus fins políticos.

A feroz matilha que coage os outros bichos e protege os porcos certamente é representação da KGB.

Os demais animais representam, basicamente, o povo russo - ou, na verdade, qualquer povo subjugado por um governo revolucionário. Logicamente cada espécie - assim como cada pessoa - lida com o poder sufocante dos revolucionários de maneira diferente. O cavalo Sansão, por exemplo, ludibriado até a alma, trabalha literalmente até a morte pela manutenção de um sistema que nunca trouxe benefício algum a ele. As ovelhas, coitadas: totalmente alheias à realidade, repetem, sem se dar conta, os slogans estupefacientes e cambiantes do Partido. Já a vaca Mimosa, burguesa egoísta e fútil, insatisfeita porque a revolução lhe tirara certos privilégios pessoais, acaba fugindo da fazenda. E por aí vai.

No meio de tudo isso, encontramos o discreto Burro Benjamin: o mais sensacional de todos os personagens da história.

E o que ele faz de tão sensacional?

Nada. Ele não faz nada.

Bem, ele é o mais esperto, sem dúvida: sabe o que se passa ao seu redor. No seu íntimo, ele não foi - nem seria, mesmo que o livro tivesse 1000 páginas - enganado. Se manteve seguro e consciente; não foi alienado nem cooptado.

No entanto, não mexeu um dedo sequer para conscientizar os outros - só abria a boca para soltar gracinhas e reclamar vagamente das coisas. Deixou os outros chafurdarem na lama da ignorância, sem pena.

Acho que é assim que eu penso e é assim que eu ajo.

Enquanto eu vejo a merda virar boné e o mundo ir ladeira abaixo - coisa que eu, mesmo canhestramente, pretendo demonstrar aqui -, o que eu faço? No máximo, isso: escrevo num blog que ninguém lê.

Mas será que podem cobrar de mim e do Burro Benjamin uma atitude "de verdade"? Será que têm o direito de berrar "por que você não faz algo de substancial"?

Ora, claro que não. É difícil e desmotivante falar com gente que não quer ouvir; falar com gente que prefere a ignorância e a mentira. Por isso, como o Benjamin, eu deixo, na marioria das vezes, os idiotas se afundarem na própria burrice. Danem-se todos.

É assim e pronto; fazer o quê?

Antes Burro que hipócrita.

Burro Benjamin.

8 comentários:

  1. Você disse tudo! O Benjamin também é meu personagem preferido do livro justamente por isso. O mais sensato dos animais. "Donkeys live a long time" (tem anos que eu repito essa frase pra mim mesmo e ninguém entende)

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  2. O burro benjamim poderia ser associado a qual personalidade da revolução russa? E qual personalidade brasileira se enquadraria nele?

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  3. Um pensamento de Benjamin que retrata bem a realidade atual é o de que as pessoas ficam muito satisfeitas ao encontrarem a solução para um problema quando seria muito melhor que não existisse o problema.

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  4. Força, n se mate, vc parece depressivo!

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  5. O que será que o burro Benjamin diria, se fosse hoje, dos memes sobre política e políticos?

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  6. -cara gostei demais do seu blog👌 ficou moh dahora continue assim que muitas pessoas irão ver seu trabalho."

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